Uma terra única, encantadora. Apresentar a Sicília em palavras é difícil, é preciso viver esta ilha italiana que tem fãs pelo mundo inteiro. Alegre, colorida, cheia de aromas e sabores. Um território que valoriza a culinária mediterrânea e que nos brinda com excelentes vinhos.
Voltei para a Sicília depois de seis anos. Participei do Sicilia en Primeur, importante evento que apresenta os diversos territórios da ilha e seus diferentes vinhos e cultura. Fui representando a revista Bon Vivant. A atividade aconteceu em Erice, pequena vila medieval com vista para o Golfo de Trapani e localizada 750m de altura. Um lugar incrível com uma história de centenas de anos.
O Sicilia in Primeur é o principal evento de vinhos da Sicília. Durante cinco dias, jornalistas de diversos países percorreram as regiões da ilha para conhecer as diferenças entre um território e outro. Cada microrregião tem um vinho com mais destaque, seja ele branco, tinto ou os dois. Por exemplo, na região do Vulcão Etna, um dos poucos ativos no mundo, cuja altitude dos vinhedos varia de 450 a mais de mil metros, e onde solo é formado pela lava, cinzas e areia, com presença de cobre, fósforo, magnésio e outros minerais, os vinhos brancos são perfumados e com boa acidez. Os tintos, também com um perfil frutado, são elegante e cheios de personalidade.
Mas a Sicília não é só a região do Etna. Em cada uma das províncias, Palermo (a capital), Catania, Siracusa, Agrigento, Taormina, além de Caltanissetta, Enna, Messina, Ragusa e Trapani pode-se degustar vinhos frescos, delicados e complexos. Uns com mais personalidade que outros, mas todos representam o seu terroir.
Com 98 mil hectares plantados de videiras, a Sicília é a maior área de vinhedos da Itália e a quarta região em produção – são 4,5 milhões de litros anuais. Quando o assunto é a área de vinhedos orgânicos/biológicos a Sicília também ocupa o primeiro lugar com uma área de 26 mil hectares, o que equivale a 27% da área de vinha orgânica de toda a Itália. E por falar em cultivos biológicos, os produtores sicilianos estão buscando cada vez mais cultivar suas vinhas de maneira sustentável, tanto é que foi apresentada oficialmente a Fondazione SOStain Sicilia, entidade que tem como objetivo principal promover boas práticas no vinhedo em prol da sustentabilidade do cultivo dos vinhedos na região.
São 24 Denominação de Origem Controlada (DOC), 1 Denominação de Origem Controlada e Garantida (DOCG – Cerasuolo di Vittoria – vinho tinto) e 7 Indicação Geográfica Típica.
Com áreas montanhosas e acidentadas, os solos da região italiana são ideais para o cultivo de uvas, especialmente aquelas chamadas autóctones (originárias daquele território). O clima apresenta-se com verões intensos e baixa quantidade de chuva, o que torna a região ideal para que as videiras alcancem o ápice de sua qualidade. Na Ilha do Sol, como é conhecida pelos italianos, são 2500 horas de sol por ano, a maior insolação nas áreas costeiras da Europa.
Os vinhos
Neste ano, entre as dezenas de brancos degustados, a variedade Grillo chamou a atenção. Um vinho frutado, cítrico, leve e fresco, um vinho alegre, que expressa bem este território. Também entre as uvas brancas estão Catarrato, Inzolia e Carricante, todas elas nativas. A Carricante é a variedade que mais se destaca ao redor do Etna, com vinhos de boa acidez.
Já entre os tintos, a Nero d’Avola, que por muito tempo foi considerada a principal uva tinta da Sicília, está dando espaço para a Frappato, uma uva que tem originado vinhos fáceis de beber com taninos suaves, mas que dependendo da vinificação e da sua elaboração, também pode apresentar mais corpo e complexidade. Há outras tintas, como a delicada Nerello Mascalese, da qual provêm vinhos leves e muito saborosos, e a Capuccio. Já entre as variedades internacionais, destaque para a Shyrah e Cabernet Sauvignon, entre as tintas, sem tirar os méritos da Chardonnay, entre as brancas.
Cerasuolo di Vittoria
A Sicília possui uma DOCG chamada Cerasuolo di Vittoria. Seus vinhos são blends que devem ter Nero d’Avola entre 50% e 70% e de 30% a 50% de Frappato. O vinho pode ser elaborado em uma área que compreende os territórios das províncias de Ragusa, Caltanissetta e Catania.
Marsala
Há espaço também para os vinhos mais tradicionais, como o típico Marsala, um dos produtos mais conhecidos mundo afora e que reporta a Sicília. Elaborado na cidade com o mesmo nome, na província de Trapani, o vinho é parecido com o vinho do Porto e apresentado nas versões meio seco e doce. O vinho é elaborado com as uvas Grillo, Catarratto e Inzolia.
Passito di Pantelleria
Se a Sicília é um dos destinos mais incríveis do Sul da Itália, com a natureza dotando-a de uma costa privilegiada, outra ilha que pertence a esse território faz dessa região um paraíso de beleza natural incomparável. É Pantelleria, um lugar mágico, um pequeno pedaço de terras que fica mais próximo da Tunísia do que da Itália. Com ventos intensos, principalmente no verão, – Pantelleria significa “a filha dos ventos” – e cercada pelo mar, a ilha possui alma selvagem, com a qual o homem está sabendo lidar muito bem. Desse encontro nasce o vinho passito, que não é somente um vinho, mas um bem precioso e um guia para descobrir os mistérios desse lugarejo anteriormente conquistado e habitado por árabes.
A variedade plantada na ilha chama-se Zibbilo (Moscato de Alexandria). É com ela que se elaboram os vinhos doces: Moscato di Pantelleria DOC e o Passito di Pantelleria DOC. Para se obter o passito, as uvas passam por um processo de secagem, permanecendo uma semana, ou mais, dependendo do estilo que se quer do vinho, secando sob o sol e o vento – na ilha sente-se muito as ondas extremas de calor que vem da África. Há também outros estilos de vinhos elaborados pelos vitivinicultores, como Pantelleria Moscato Espumante, Pantelleria Moscato Liquoroso e Pantelleria Frizzante.
